terça-feira, 26 de julho de 2016

Dengue: vacina importada é mais um exemplo do fracasso de nossa política de C&T




Só em 2015 a dengue atingiu mais de um  milhão e meio de pessoas (veja aqui) no Brasil! No dia 19 de abril de 2008, há oito anos, eu e o pesquisador André de Fatia Pereira Neto, da Fiocruz, escrevemos um artigo no Globo alertando para a urgência de financiarmos projetos de pesquisa para desenvolvermos uma vacina contra a dengue. Na época estávamos na Faperj e nossa briga era tentar convencer os órgãos de financiamento a pesquisa (Faperj, CNPq e Finep) a assumirem a posição que lhes cabe de entidades que deveriam pensar estrategicamente a ciência e tecnologia a definirem a luta contra a dengue como uma das suas prioridades.

Fomos derrotados.

A política de ciência e tecnologia que predomina em nosso país, há muitos anos, prefere pulverizar o investimento em milhares de projetos de interesse dos pesquisadores em detrimento de projetos de claro interesse da sociedade. Quem define onde os recursos públicos serão investidos são os próprios pesquisadores, sem levar em conta os interesses da sociedade. Como dito no artigo, os critérios de avaliação da produção científica brasileira se baseiam EXCLUSIVAMENTE na publicação de papers em revistas internacionais, desprezando pesquisas que gerem inovações e/ou que gerem resultados para a sociedade. Não se trata de exagero. Registrar patente não conta absolutamente nada para a avaliação de um pesquisador. O ÚNICO critério é publicação de artigo.


O resultado desta política de ciência e tecnologia não poderia ser outro. O Ministério da Saúde acaba de informar que a vacina contra a dengue, elaborada pelo laboratório francês Sanofi será vendida no Brasil por R$ 140 a dose! Estamos colhendo o que plantamos.

Precisamos urgentemente inverter esta lógica! Como dito no artigo, "os recursos públicos deveriam, prioritariamente, serem investidos em projetos de pesquisa que busquem encontrar soluções para os problemas que afligem a sociedade brasileira". Se não mudarmos o rumo, continuaremos a publicar artigos e a fazer pesquisas que têm muito pouco impacto e interesse para a sociedade.

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